A comoção é um sentimento raso. Ela vem honesta e transparente, derruba-lhe, consecutivamente, convicções e outros sentimentos recônditos de que não se permitem publicamente indagações. Daqueles que simplesmente permanecem recolhidos em nosso interior, arquivados das câmaras de deliberações terceiras.
Digo raso porque nos faz liberar grandes quantidades de substâncias no corpo, gametas de sensações de raro teor de satisfação própria e particular, quando boas. Não as questionamos das razões, motivações, ou fundamentos. Ela sobe, arranca-nos a casmurrice habitual, suplanta o decoro e a postura externa e, por fim, faz-nos marionetes: dobramo-nos em prantos, lágrimas escorrem-se à nossas faces, um sorriso expansivo - ou discreto - revela-se. Tudo isso com o mínimo de reflexões ou oposições morais.
Senão quando, há aqueles que resistem a este primeiro assalto hormonal. O resultado disto, muitas vezes, não é tão agradável: como se uma primitiva expansão do espírito humano sofresse uma abrupta interrupção que lhe ceifasse o órgão principal e, de sobejo, o indivíduo regressasse ao estado natural de equilíbrio, quando não transmuta para o lado inverso a que fora levado pela sensação primária.
No final, fica esta reflexão, que não quis deixar escapar e perder-se no subconsciente das obrigações secundárias da vida. Para além disto, digo que fica também um malogro permanente das expansões naturais do espírito humano. Malogro que lhe cerceia a capacidade de alimentar, noutras ocasiões semelhantes, este fenômeno tão humano.
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