segunda-feira, 9 de maio de 2011

Brumadense


Caro amigo Brumadense. Venho por meio desta publicação honrosa fazer-lhe homenagens de amigo sincero. Não é que me arrebatara este ímpeto de camaradagem? É, sim senhor. E não há expressão mais iconoclasta senão esta.
Mas não é com requintes de homoafetividades recônditas que lhe venho fazer as vezes de íntimo. Não! A verdadeira camaradagem é aquela que apunhala a faceirisse fraudulenta, estripa a aleivosia cambaleante, rói a cegueira mandriã; esta mesma, que lhe cerceia os instintos pueris e lhe comprime a juventude num análgésico das formalidades sociais.
Perdoe a franqueza de espírito e os eventuais solescismos de estilo; reparto-os contigo, embora não creio que os possa identificar por si. Não deixe que as primeiras palpitações mais contundentes que a perplexidade imprime à pressão sangüínea lhe cinjam a capacidade de interpretação crítica e dialética - com a qual lhe sirvo agora e da qual és tão carente. Vai mais fundo e chegarais à conclusão que esboço neste momento.
De início, deixo antes registrado que estes dois parágrafos acima teriam sua concepção interrompida acaso não me tivesse escorrido do nariz algumas gotas de sangue venoso (deduzo-as pelo tom). Se este prólogo lhe parece deveras obscuro, atenta para o que se lhe segue.
Sucede que, tendo-me o sangue escorrido pelas narinas, não o nego, como num turbilhão de relâmpagos de memória, lembrei-me do Rugby, de Elson, da pancada despropositada que me dera à fuça, do sangue deitado ao gramado, de Raquel, do sangue coagulado na cavidade nasal e da respiração truncada do regresso. Este tal turbilhão e o insistente e repentino sangramento fizeram-me arrepiar a espinha. Era a fragilidade do Homem que se me abatera à consciência. A tal fragilidade que levara à minha mãe uma amiga querida. Não se concebe como uma mulher de 40 anos pudesse padecer de um AVC quando, a 4 horas antes, sentisse tão-somente uma leve dormência no braço esquerdo. As idéias foram-se-me desencarrilhando a mente e veio desembocar na distância que o tempo e as incumbências adultas prostraram-se em nossas vidas. Digo-o assim antes por termos analíticos, para que então pudesse-se familiarizar com o termo sintético: o meu apreço por vossa pessoa.
Esta era a minha pretensão à altura. A natureza da memória é deveras pérfida quando lhe mais queremos os benefícios. De um modo ou outro, cerrada a inspiração repentina que me veio naquele momento, resta-me apenas a intenção que é de fato objeto destas linhas e me guiara até aqui.
Aproveito a ocasião dos festejos do dia do amigo para lhe fazer esta homenagem. Sinto falta dos nossos debates em tom de megalomania, da sua impassibilidade tabaréu, da sua capacidade reduzida de examinar problemáticas sem incorrer em subjetivismos abstratos, da sua objeção às coisas recônditas ou entrelinhadas (ex: você, sr. de engenho do sec. XIX, puniria um escravo fujão com um pouco de tronco e limbada). Enfim, aproveito-a para jogar logo essa porra no blog.

Nenhum comentário: