domingo, 15 de abril de 2007

Pé-de-cabelo

(Robert Colescott)

- Jesus! Puta que pariu! Que lâmina filha da puta!
Acho que foram essas, minhas palavras, ontem, enquanto raspava-me os pêlos da face. Lembro-me também de ter pensado naqueles homens "brasileiros"do séc. XIX , naqueles bigodes recheados de cera, laquê e anabolizantes de mandioca e naquelas longas barbas que quase os remetiam a seres sagrados.
Vieram-me à mente algumas lembranças de alguns indivíduos que, já há um tempo não eram trazidos à memória RAM do meu “hard brain”. Imagens como a de Fidel Castro – será que ele já se barbeou algum dia? – e sua eterna barba de condão; veio–me também a imagem(de fato) excêntrica de Schoppenhauer e sua barba invocada à moda “wolverínica” (quem sabe, à exemplo de Da Vinci, ele não tenha previsto o surgimento de uma criatura cuja a estrutura óssea seria composta de adamantium). Coitado, perdia tanto tempo barbeando-se que não lhe sobrava tempo para a leitura, razão a qual me faz presumir a origem e a causa da elaboração de toda aquela encheção-de-lingüíça.
Mas meu cable modem não parou por aí. Pensei também o quão somos infelizes - nós homens - por termos que nos barbear.
-Peraí! Que porra é essa?! Eu não tenho que me barbear se não o desejar - existe o tratamento à laser definitivo. Não tenho que seguir esse padrão pseudo-tenentista-positivista-ultranacionalista-enlatado- norte-americano social de estética. O que há de errado em ter alguns centímetros de capilaridade no queixo? Pois essa é a últi...
-Ai, que caralho, lâmina filha da puta...
E lá iam-se outras fraturas epiteliais.

Um comentário:

Anônimo disse...

A sua ironia deu ao texto um sabor diferente e ficou muito bom de ler.
Parabéns!

Marcelo Mendonça